Os Sem Universidade


No novo milênio, novos personagens entram na cena pública brasileira, novos sujeitos sociais: os Sem Universidade. Nós! Mais que um trabalhador ou uma trabalhadora que isoladamente não tem universidade.

O princípio educativo está no MSU mesmo, no transformar-se, transformando. Ser do movimento é estar em movimento, pois só assim se aprende que o mundo e o ser humano estão para serem feitos, e a realidade, constituída basicamente de relações sociais que precisam ser compreendidas, produzidas ou transformadas, deve ser vista como o grande mestre nesse fazer.

Olhar cada ação, cada cursinho popular em si mesmo, ou olhar para aquelas pequenas coisas isoladamente é diferente de olhar tudo isto, ou cada uma destas coisas na perspectiva do Movimento Social, ou como processos que produzem um Movimento Social. É este olhar geral que interessa para a história, que permite situar o MSU para além dele mesmo, por sua vez como processo que constitui um movimento sociocultural que o transcende. Cursinho Popular é mais que Cursinho Popular, Universidade é mais que Universidade, talvez porque o Movimento seja mais que Movimento.

O MSU revolve, mistura e transforma diferentes componentes educativos, produzindo uma síntese pedagógica que não é original, mas também não é igual a nenhuma pedagogia já proposta, se tomada em si mesma, exatamente porque a sua referência de sentido está no Movimento. É Zumbi dos Palmares! É Maria Carolina de Jesus! É Che Guevara, é Mandela, é Gandhi. São as sementes lançadas no chão brasileiro pelo educador popular Paulo Freire, é o eco do tambor africano da educação popular de Abdias do Nascimento, é o grito dos povos indígenas brasileiros, é a chama da luta dos excedentes. É uma síntese em processo, produzida pelo esforço, nem sempre consciente de construir uma educação do jeito do Movimento. Síntese das linguagens presentes no meio urbano ontem e hoje: o movimento Hip Hop, a fé cristã transformadora, o ativismo social, a contestação na universidade, na escola, a educação popular, a cultura popular, a ação social na internet.

Ser Sem Universidade quer dizer estar permanentemente em luta para transformar o atual estado de coisas na sociedade. Tudo se conquista com luta e a luta educa as pessoas. Há que se entender como em cada ação cotidiana está a marca da atitude de pressionar as circunstâncias para que elas sejam diferentes do que são.

Prova disso foram as conquistas reais da luta do MSU para a sociedade brasileira:

1. As isenções das taxas do vestibular e da taxa do ENEM;

2. A criação do PROUNI, com mais de um milhão e meio de bolsas de estudos;

3. Criação de novas universidades, como a Universidade Federal do ABC;

4. O ENEM como critério de acesso à universidade no Brasil;

5. A Lei de Cotas (Lei 12711/12) que garante 50% das vagas nas universidades federais e no ensino técnico federal, por turno e por curso, para estudantes oriundos de escola pública, respeitando-se a proporção de negros e indígenas por região do Brasil.

Junto com este aprendizado de que nada nos deve ser impossível de mudar, vem outro muito importante, especialmente se visto com os olhos do nosso tempo: o aprender a produzir utopias, no sentido de construir um olhar para a vida e o mundo que projete futuro e um futuro balizado na convicção de que tudo pode ser diferente do que é. Se a realidade pode ser outra, então também é possível imaginar, projetar, como ela virá a ser se assim for feita. Não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos como humanos.

É isso que faz do MSU o melhor cursinho popular do mundo.

Nós somos o MSU! Somos a periferia legítima! Somos a nova classe média! Somos a nova classe trabalhadora! Somos milhares de famílias que construímos o Brasil! Somos a nova ascensão social no Brasil! Somos milhões de homens e mulheres! Estamos mudando e continuaremos a mudar a cara do Brasil! Viva o MSU! Viva o Brasil!

24 de Março de 2014.